sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Flanando pela Alsácia

Alsácia ! Sim, em meados de 2015, a BIP - a Busca Incansável do Prazer, nos levou à Alsácia, a pequenina região situada na fronteira entre a França e a Alemanha. Na verdade, nos últimos 400 anos, essa região já fez parte, alternadamente, dos dois países. Sabemos que estamos na França, mas os nomes das cidadezinhas e dos vinhos soam extremamente germânicos.

A região toda é formada por uma faixa de terra de pouco mais de 80 km de extensão, com menos de 20 km de largura - você cruza a região toda, de carro, em uma hora, se não parar em nenhuma das cidadezinhas ou vilarejos.

E isso seria, obviamente, uma tolice sem tamanho - o grande charme de passear pela Alsácia está precisamente em desfrutar, com muita calma, sem pressa, cada um dos lindos vilarejos que a compõem, caminhando pelas ruas estreitas e sinuosas, contemplando as casinhas feitas quase sempre com aquela estrutura de madeira aparente (eles chamam esse estilo de colombage), bebericando, aqui e ali, os vinhos brancos que fazem a fama da região.


Tereza, diante da célebre colombage

 As cidades de Estraburgo, ao norte (a capital da Alsácia), e de Colmar, ao sul, praticamente delimitam os extremos da região. No meio, dezenas de vilarejos encantadores, com nomes meio difíceis de pronunciar : Obernai, Selestat, Dambach-La-Ville, Ribeauvillé, Riquewihr, Eguisheim - este último é o preferido da Tereza ! Todos são semelhantes, e todos estavam incrivelmente enfeitados de flores por todas as partes. Em muitas delas, podemos avistar simpáticas cegonhas aboletadas em seus ninhos, no alto das torres.




Todas as cidades encontram-se literalmente cercadas pelos vinhedos, que vêm até a borda das ruazinhas medievais.

Quanto às uvas, planta-se por lá muita gewürztraminer, muita pinot gris (a mesma pinot grigio dos italianos), uma curiosa pinot auxerrois e, acima de tudo, a rainha da Alsácia - a riesling, que ocupa quase 25 % de todo o território.

Ao longo da região, cerca de 40 vinhedos recebem a classificação de Grand Cru - ou seja, são considerados vinhedos especiais, produzindo vinhos de qualidade superior. É claro que, como em qualquer lugar do mundo, essa classificação por si não garante que o vinho a ser bebido será ótimo - é apenas uma indicação que se trata de um terroir com características diferenciadas.

De forma geral, não bebemos nada que nos tenha encantado - vinhos bons, sem dúvida, e capazes de harmonizações excelentes com os pratos da culinária local - mas nenhum que nos tenha arrancado suspiros emocionados ...

Uma dessas boas harmonizações (e que foi também surpreendente, para nós) aconteceu na bela cidade de Colmar, no restaurante chamado Le Caveau de St. Pierre. Comemos o famoso chucrute alsaciano, pratos enormes e de sabor acentuado, com até 8 tipos de carnes diferentes : porco, frango, linguiças, salsichas ... Para beber, elegemos um Riesling Grand Cru Saering Domaines Schlumberger 2010. Ao provar o vinho, ele nos pareceu adocicado demais - e duvidamos muito que ele realmente harmonizasse com comida tão - digamos - poderosa ...



Surpresa ! Foi uma combinação ótima, contrastando os sabores, e com a acidez do vinho realçando e valorizando a comida. Vale, como sempre, a velha regra : sempre que possível, combine a comida e os vinhos próprios da região. Afinal, eles vêm aprimorando essa harmonização há alguns séculos ...

Enfim - uma região linda, chegando a ser deslumbrante em alguns pontos específicos, abastecida com vinhos bons sem ser magníficos. Exatamente o oposto do que vimos / bebemos na Borgonha ...


2 comentários:

Anônimo disse...

Dois comentários, meu amigo Nivaldo:
1) que palavra fantástica é "aboletado". Agora que sou pai vou aboletar o Danilo
2) Iria te perguntar a sua opinião sobre a Gewüztraminer, mas percebi que você não se empolga muito

Sandro

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Sandro !!

Abolete-se à vontade, deixe o Danilo confortavelmente aboletadinho ao lado e entorne uma tacinha ....

Sobre a Gewürz - não sou mesmo um grande fã, não. Às vezes tomo uma garrafinha nas andanças por aí, para provar e estar sempre atento às diferenças, mas nunca me entusiasmou. Já provei uma vez, aqui em São Paulo, com comida tailandesa, e até que ela se portou direitinho, não fez feio.

A uva é natural da Alemanha, e parece que ela recebeu esse nome por conta de uma outra antiga uva local chamada "traminer". Mais tarde, por efeito de cruzamentos forçados por plantadores, teria nascido este outro tipo de "traminer", que eles achavam que era um pouco mais "temperada", ou "gewürz"...

Não sei se a história é verdadeira, foi apenas o que andei lendo por aí !

Abraços aboletados !

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