quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Chile e seus vinhos



Existem registros históricos que falam de vinhas sendo plantadas no território chileno já no século XVI. Como em muitos outros lugares, esses antigos vinhedos chilenos começaram a ser plantados por motivos religiosos : os missionários católicos europeus que chegavam ao país precisavam do vinho para celebrar suas missas.

Já no século XIX, após a independência do país, a alta sociedade chilena estava acostumada a emular o estilo de vida francês - aí incluídos a arquitetura, as artes, a gastronomia - e, claro, o gosto pelos bons vinhos.

Foi então que a praga da filoxera atacou impiedosamente os vinhedos europeus (falei sobre essa história aqui no blog, neste post). Por alguma razão pouco conhecida, os vinhedos do Chile jamais foram atacados pela praga. Há quem diga que isso se deveu às águas geladas do Pacífico sul, ou à presença protetora da cordilheira dos Andes - ou, o que é mais provável, a uma combinação desses e de outros fatores geográficos.

O fato é que os vinhedos resistiram, e resistem até hoje, à filoxera. Com a destruição dos vinhedos da Europa, dezenas - talvez centenas - de especialistas europeus desempregados bandearam-se para a então quase desconhecida América do Sul - e começa assim o imenso desenvolvimento da vitivinicultura chilena.

Esse é o condicionamento histórico que explica o fato de que o vinho chileno é, hoje em dia, o mais conhecido e mais valorizado vinho da América do Sul na Europa. Quem já teve oportunidade de visitar uma loja de vinhos (ou restaurantes) em um dos países europeus tradicionalmente consumidores de vinho terá certamente observado isso. É muito raro encontrar por lá vinhos argentinos, uruguaios ou brasileiros - mas os chilenos estão sempre por lá, às vezes até nas prateleiras dos super-mercados franceses, espanhóis ou italianos.

E aí, para aumentar o charme dos chilenos, vem a história famosa da uva carmenère. Essa uva, originária da nobre região de Bordeaux, na França, foi praticamente extinta por lá pela tal da filoxera. Acontece que, desde o século XIX, algumas vinhas de carmenère eram importadas pelos chilenos, em geral misturadas às vinhas de uva merlot. Por décadas e décadas, a merlot e a carmenère foram plantadas e utilizadas em conjunto, como se fossem a mesma uva.

Foi só em 1994 que um professor francês, Jean-Michel Boursiquot, em visita ao Chile reconheceu aqueles vinhedos como sendo da tal carmenère - eles demoravam duas ou três semanas a mais para amadurecer, em comparação com  os outros pés de merlot. Espertamente, os produtores chilenos souberam fazer desse acaso uma tremenda vantagem, e consagraram a carmenère como a uva emblemática do Chile, com seus vinhos amigáveis e suaves, de coloração vermelha violácea, fáceis de beber.

No mercado brasileiro, você pode encontrar uma imensa lista de vinhos chilenos de bons produtores. Vai aqui uma listinha com os nomes de alguns desses produtores - se esbarrar numa dessas marcas por aí, pode comprar sem medo de errar :

  • Almaviva - grande (e caríssimo) vinho chileno, feito em um joint venture entre a Concha y Toro (maior produtor chileno) e o Barão Philippe de Rotschild (consagrado produtor de Bordeaux)
  • Concha y Toro - enorme produtor, que tem uma linha que vai desde os vinhos bem simples e baratos (como o Sunrise e o Reservado) até os excelentes e caros (Don Melchor e Carmin de Peumo). Eles têm também uma linha intermediária, de boa relação custo x benefício, como o Marques de Casa Concha e o conhecidíssimo Casillero del Diablo.
  • Cousiño Macul - vinícola muito antiga e tradicional, com bons rótulos no mercado brasileiro.
  • Casa Lapostolle
  • Domus Aurea
  • Errázuriz
  • Haras de Pirque 
  • Leyda
  • Matetic
  • Viña Montes
  • Tarapacá

São apenas alguns nomes, é claro - a lista é enorme.

Que tal você fazer suas próprias experiências e descobertas e compartilhar com a gente aqui no blog ?

4 comentários:

Stella disse...

Sou muito fã dos vinhos da Concha Y Toro, terei a oportunidade em Outubro de poder conhecer a vinicula, aproveito ainda para ir na Alma viva.... estou super ansiosa....

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Stella, que bom que vai ter essa chance de visitar as vinícolas por lá ! As duas vinícolas ficam na mesma região, em Maipo, então deve ser tranquilo visitar ambas (eu, na verdade, não as conheço).

Lá perto há ainda um terceira, a Viña Haras de Pirque, que é, segundo a literatura, uma das mais bonitas do mundo, com seu edifício no formato de uma ferradura de cavalo. Quem sabe você também dá uma passadinha por lá ?

Depois conte pra gente, aqui no blog, as suas impressões !

Beijos, e boa viagem !

Felipe disse...

Nivaldo,
Muito interessante este post!
Eu tenho em casa um Cousiño Macul que ganhei de um amigo. Já tinha ouvido falar, mas nunca experimentei.
O que você diria sobre os Tabalís e Koyle? Os Tabalís eu já experimentei alguns e apesar de ser bem iniciante na arte, achei muito bom. Nunca experimentei nenhum Koyle, mas já ouvi falar que é muito bom também!
Abraço,

Felipe

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Felipe, que bom que gostou do post !

O Tabalí é um bom vinho, também está entre as vinícolas mais conhecidas do país. Ele é produzido numa região ao norte do país, e em vinhedos que ficam bem pertinho do oceano, o que lhes dá um aroma e sabores bem típicos. Eu bebi uma vez um Pinot Noir - e confesso que não me encantou. Mas pode ter sido a garrafa - temos que provar de novo, com certeza !
Quanto ao Koyle, nunca bebi. Sei que é um vinho biodinâmico (desses em que as uvas são tratadas de acordo com os ciclos lunares, e com os ventos, e com outras mumunhas mais) e sei que os produtores são de uma das famílias mais tradicionais do mundo do vinho chileno, a família Undurraga. É outro que temos que provar !

São tantos os vinhos a serem bebidos ... é um dureza esta tarefa de blogueiro de vinhos ...

Abraços

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