sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O tema das rolhas

Desde pelo menos meados do século XVIII, as garrafas de vinho são fechadas com rolhas, idênticas às que a gente conhece até hoje.

A rolha clássica é feita de cortiça, um material que é extraído da casca de uma árvore chamada sobreiro. Mais da metade das rolhas produzidas no mundo, hoje em dia, são produzidas em Portugal. É um processo caro e trabalhoso. Imagine que o tal do sobreiro só está "no ponto" para começar a produzir a cortiça depois de 25 a 30 anos do seu plantio - e a partir daí, só dá para extrair cortiça de 9 em 9 anos.

Em resumo, trata-se de um produto caro. Além disso, a rolha clássica, de cortiça de sobreiro, é ameaçada por uma substância chamada tricloroanisol, ou TCA, produzida por um fungo. Quando esse fungo surge na rolha, o vinho poderá estragar, adquirindo um aroma de bolor - é o que os entendidos chama de vinho bouchonné , expressão que vem da própria palavra francesa para rolha : bouchon.

Sendo caro, e estando sujeito a riscos, já há, atualmente, muita gente boa no mundo dos vinhos propondo a substituição da rolha por produtos diferentes. E naturalmente, já há produtores de vinho, no mundo todo, partindo para esses materiais alternativos.

Em geral, os produtores europeus ainda resistem. A grande maioria dos vinhos franceses, italianos, espanhóis e portugueses ainda vem tampados com a velha e boa rolha de cortiça. Como boa parte desses vinhos é feita para ser guardada - os famosos vinhos de guarda - a rolha ainda parece ser a melhor solução. Ela é suficientemente porosa para permitir um tênue contato do líquido com o oxigênio, o que garante, ao longo dos anos, a evolução do vinho.

Já quando se trata dos vinhos do Novo Mundo - Estados Unidos, África do Sul, Chile e Argentina, Nova Zelândia e Austrália - está ficando cada vez mais comum a presença de materiais sintéticos - são aquelas rolhas que parecem feitas de plástico, ou de uma resina qualquer. Para vinhos brancos, e para vinhos tintos jovens, que devem ser bebidos dentro de no máximo 5 ou 6 anos, parece ser uma boa solução.

Outra opção que está crescendo, principalmente com vinhos da Nova Zelândia, é a chamada screw cap - é aquela tampinha de metal, de rosca, parecida com as tampas de certos azeites. Lembra também as tampinhas de garrafas plásticas de refrigerantes, só que feitas de metal.

Há gente do primeiríssimo escalão do mundo dos vinhos que garante que, no futuro, todos os vinhos serão fechados com screw cap. Será ?

É uma pena, mas só do ponto de vista da tradição. Convenhamos - é muito mais gostoso abrir uma garrafa de vinho com o saca-rolhas clássico, e guardar a rolhazinha de cortiça em um vaso decorativo, ao lado da mesa de jantar ...

Já do ponto de vista estrito da qualidade, embora ainda seja um pouco cedo para termos certeza, tudo indica que as tampinhas de rosca serão mesmo a melhor alternativa para selar nosso vinhozinho de todos os dias...

5 comentários:

MondoVinho disse...

Oi Nivaldo,
Eu também não fico feliz com o screwcap e não somente por motivos tradicionais. Neste post (part 1 e 2) explico as razoes mais importantes:

http://mondovinho.blogspot.com/2010/08/screw-cap-tem-certeza-que-e-ecologico.html

Inclusive no marcador “Rolhas” na coluna do lado direito da pagina vai encontrar mais curiosidades.

Um abraço!

Nivaldo Sanches disse...

Olá, Mario, obrigado pelos comentários !

Seus posts sobe o tema das rolhas e do screw cap são muito interessantes - de resto, seu blog todo é muito legal !
Já me cadastrei lá como seguidor.
Sobe o tema da suposta "ecologia" associada ao screw cap, você tem razão, é claro. Praticamente TODAS as empresas, hoje em dia, procuram associar seu nome a práticas supostamente ecológicas (para não falar dos políticos ...). Tem até uma propaganda no rádio de uma empresa que faz "TI verde" - que diabos será isso ?!? Agora, parece que até a garrafa PET de Coca-Cola é "ecológica" ...
Enfim, é uma discussão que ainda vai dar muito pano pra manga.
Abraços !

MondoVinho disse...

Oi Nivaldo,
Obrigado pelos seus elogios. Eu também estou seguindo o seu blog, que por sinal, é muito bacana.
Você disse tudo sobre a ecologia! E quanto à garrafa pet, também tinha escrito uma matéria, pois tem quem acredita que é bom para o vinho...sem palavras!

De uma olhada:
http://mondovinho.blogspot.com/2010/11/o-futuro-e-de-plastica.html

Grande abraço!

Nivaldo Sanches disse...

Mario, vinho em garrafa PET ? Argh !!!!
Será puro preconceito meu ?
Já odeio aquelas detestáveis caixas de papelão que alguns argentinos e chilenos insistem em nos empurrar goela abaixo ...
Que tal manter o vinho em vidro - que, como você bem diz no seu blog, também é reciclável - e manter as PET para Coca-Cola e as Tetrapak para o leite, heim ?!?

MondoVinho disse...

Nivaldo,
Olha, é até provável que seja preconceito nosso, mas eu concordo plenamente contigo e assino embaixo.

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