quinta-feira, 10 de junho de 2010

Degustação, uma arte para poucos - será mesmo ?

Meus amigos, hoje em dia, basta eu dar um pequeno gole em uma taça de vinho e já sou capaz de dizer, com precisão, qual o tipo de uva utilizado, qual a região produtora e de qual país o vinho é originado. Com um pouco de sorte, posso dizer o nome do produtor e a safra da qual aquela garrafa se originou.

Você não acreditou no que eu disse nesse primeiro parágrafo, né ?

Pois fez muito bem !

A degustação de vinhos deve ser um prazer, muito mais do que um truque de prestidigitação.

Claro, existem pessoas no mundo que têm um olfato ou um paladar extremamente desenvolvido e treinado, e que são capazes de fazer essas coisas. Gente como Robert Parker, o americano que hoje é o todo-poderoso criador e destruidor de mitos do mundo dos vinhos.

Mas você e eu não somos Robert Parker ... Será que essa nossa "incapacidade" nos relega ao plano dos "caras que não entendem de vinho", dos sujeitos que estão impedidos por alguma lei de fazer suas degustações ?

É claro que não ! Parafraseando o poeta maranhense Ferreira Gullar, eu digo que o vinho, como a crase, não foi feito para humilhar ninguém. Degustar um vinho não quer dizer ter poderes excepcionais e ser capaz de fazer as adivinhações mágicas do primeiro parágrafo deste texto.

Degustar um vinho deve ser, antes de tudo, um exercício de prazer. Nós, que não somos profissionais do mundo do vinho, não temos nenhum compromisso de ficar acertando adivinhações às cegas. Isso é coisa de profissional - ou então, dos famosos enochatos.

Tereza e eu brincamos, às vezes, de fazer degustações às cegas. Em geral, fazemos essas brincadeiras com amigos, como o Walther e a Cláudia. Os resultados, envergonho-me de dizer em público, têm sido pífios ... Acertamos aqui e ali, erramos na maior parte das vezes. O mais importante é que nos divertimos, trocamos experiências, bebemos, comemos, jogamos conversa fora.

A degustação, para nós, é isso - a arte de jogar conversa fora. O supremo prazer de tentar descobrir aromas e sabores inesperados, de tentar entender porque alguns sentem cheiro de "tabaco" onde eu só sinto cheiro de "madeira", e porque alguns vinhos devem ter aroma de "frutas vermelhas" enquanto outro apresenta "notas de frutas negras" - alguém aí sente cores com o nariz ?

Enfim, vamos deixar de frescuras - o prazer do vinho está em bebê-lo e em confraternizar com os bons amigos, não em fazer mágicas de salão.

Portanto, relaxe - você não é o único que não sabe qual é o aroma de "grama recém-cortada". Beba seu vinho, tente descobrir se ele lhe dá prazer e tente memorizar os aromas e sabores que está encontrando. Se não tiver muito sucesso, relaxe mais - e beba mais um gole.

Como dizia um professor meu da ABS, o vinho foi feito é pra gente beber !

O resto, deixemos para os Robert Parker e para os enochatos de plantão.

2 comentários:

http://fv.ribeiro.zip.net/ disse...

Nivaldo, esse é meu texto favorito.
Você conseguiu traduzir o que nós, mortais desprovidos de paladar canino, sentimos sempre que nos deparamos com essas descrições cheias de sentidos e texturas.
Parabéns,
Fabio

Nivaldo Sanches disse...

Valeu, Fabio, obrigado pelos comentários - e obrigado por ter sido desde o começo um dos maiores incentivadores do nosso blog ! Aliás, vale de novo o registro - a idéia da Copa dos Copos foi sua !

Abraços

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